domingo, 31 de dezembro de 2017

O DISNEYANO GOOFY — PATETA, PARA OS BRASILEIROS — E O BASEBALL

O cachorro antropomorfizado Goofy — Pateta, no Brasil — surgiu em 1932 como figurante em desenhos animados protagonizados por Mickey Mouse. Nas primeiras aparições teve o nome de Dippy Dawg. A denominação foi alterada em 1934. Começou lenta escalada rumo ao estrelato em 1935 ao se firmar como um dos vértices do triângulo completado por Mickey e o Pato Donald. Daí até aproximadamente 1940, passou pelas mãos dos diretores Ben Sharpsteen, Burt Gillett, David Hand, Dick Huemer e Clyde Geronimi numa série de animações ágeis, marcadas por situações criativas e carregadas de surrealismo. Em 1939 ganhou o privilégio de atuar em uma exclusiva aventura curta: Goofy and Wilbur (1939), de Dick Huemer. Nos anos seguintes, sob a responsabilidade do diretor Jack Kinney, conheceu o auge ao protagonizar uma série de shorts nos quais se viu envolvido em atividades esportivas, profissionais e educativas. Como jogar baseball (How to play baseball), de 1942, é uma das muitas paródias atléticas que protagonizou. São cerca de oito minutos de narrativa dinâmica dividida entre a descrição elucidativa do jogo tão caro aos estadunidenses e os momentos finais de uma tensa partida de encerramento da temporada. Segue apreciação escrita de 1995. 






Como jogar baseball
How to play baseball

Direção:
Jack Kinney
Produção:
Walt Disney (não creditado)
Walt Disney Productions
EUA — 1942
Elenco:
Vozes de George Johnson, Fred Shields.



Nos Estúdios Disney: Pinto Colvig - a principal voz de Goofy - e o diretor Jack Kinney



Estrelado por Pateta — Goofy segundo a denominação original —, Como jogar baseball é desenho animado curto com aproximadamente oito minutos. Foi realizado especificamente para complementar as sessões de Ídolo, amante e herói (The pride of the Yankees, 1942), dirigido por Sam Wood e protagonizado por Gary Cooper no papel do lendário astro de baseball Lou Gehrig, falecido em 1941. O produto da Disney assinala a trigésima oitava aparição nas telas cinematográficas do magro, alto, atrapalhado, desengonçado, generoso, simpático e estúpido cachorro antropomorfizado da vasta galeria de personagens concebidos pela Walt Disney Productions.


Até o momento da elaboração desta apreciação, Pateta marcava presença em 88 realizações das mais diversas metragens originalmente concebidas para o cinema e, em menor parte, para a televisão. Surgiu em 1932 com o nome de Dippy Dawg. Nesse ano estreou como figurante no desenho curto Mickey's Revue, de Wilfred Jackson. Nessa condição apareceu em The whoopee party (1932), Touchdown Mickey (1932), The Klondike Kid (1932), Mickey's mellerdrammer (1933) e Os tempos antigos (Ye olden days, 1933), dirigidos por Jackson. Em 1934 tem o status relativamente elevado e o nome alterado para Goofy no curto Em benefício dos órfãos (The orphan's benefit), de Burt Gillet, no qual o protagonismo é dividido entre Mickey e o Pato Donald.






O estrelato de Pateta começa para valer em 1935 com o curto A oficina mecânica de Mickey (Mickey's service station), de Ben Sharpsteen. É o marco inicial da célebre formação Mickey-Donald-Pateta que permitiu primorosas e ousadas animações tingidas de surrealismo com destaques para A brigada do Mickey (Mickey's fire brigade, 1935), de Ben Sharpsteen; O dia de mudança (Moving day, 1936), de Ben Sharpsteen; Mickey e o mágico (Magician Mickey, 1937), de David Hand; Caçadores de alces (Moose hunters, 1937), de Ben Sharpsteen; Relojoeiros das alturas (Clock cleaners, 1937), de Ben Sharpsteen; Os fantasmas solitários (Lonesome ghosts, 1937), de Burt Gillett; O barco do Mickey (Boat builders, 1938), de Ben Sharpsteen; O trailer do Mickey (Mickey's trailer, 1938); Ben Sharpsteen; Caça à baleia (The whalers, 1938), de David Hand e Dick Huemer; e O rebocador do Mickey (Tugboat Mickey, 1940), de Clyde Geronimi.






Ano particularmente significativo para o personagem é 1939: ganha a oportunidade de estrelar um desenho concebido exclusivamente para ele: Goofy and Wilbur (1939), de Dick Humer. Novas oportunidades de atuações solo surgem com O planador do Pateta (Goofy's glider, 1940) e Ladrão de bagagem (Baggage buster, 1941), concebidos por Jack Kinney.





Durante as décadas de 40 e 50, Pateta encontra a verdadeira vocação: instrutor prático, voluntário ou acidental. Protagoniza uma série de paródias esportivas que englobam diversos jogos e atividades atléticas. Também ministra lições acerca de afazeres profissionais variados e é porta-voz de assuntos educacionais relacionados ao trânsito e à preservação da saúde. Destacam-se A arte de esquiar (The art of skiing, 1941), Pateta vai à luta (The art of self defense, 1941), Como jogar baseball, Pateta nas Olimpíadas (The olympic champ, 1942), Como nadar (How to swim, 1942), Como pescar (How to fish, 1942), How to be a sailor (1944), Como jogar golfe (How to play golf, 1944), How to play football (1944), African diary (1945), Raquetadas muito loucas (Tennis racquet, 1949), Ginástica patética (Goofy gymnastics, 1949), Motormonia (Motor mania, 1950), How made home (1951), Tomorrow we diet (1951), No smoking (1951), Como ser um detetive (How to be a detective; 1952), How to dance (1953), How to sleep (1953), Aquamania (1961), Fobia de estrada (Freewayphobia or the art of driving the super highway, 1965) e Goofy's freeway trouble (1965). Wolfgang Reitherman dirigiu Aquamania. Ficaram por conta de Les Clark Fobia de estrada e Goofy's Freeway Trouble. Os demais títulos são de Jack Kinney. Em algumas dessas realizações o personagem sem sempre é identificado como Goofy. Pode ser Mac, Max, Mr. X e George.


Como geralmente acontecia, Pateta contracena com vários duplos em Como jogar baseball. É arremessador, juiz, rebatedor, defensor e, claro, o público. Além dele há a figura oculta do narrador/apresentador esportivo. Este descreve a quadra, táticas e equipamentos. Tudo é levado em consideração, inclusive o aspecto um tanto confuso do jogo, principalmente para os não iniciados estadunidenses. Ao longo de todo o tempo não se perdem oportunidades para boas e rápidas piadas, principalmente as visuais. Como jogar baseball corre por oito minutos de narrativa francamente dinâmica. Começa calmamente, com a apresentação e descrição dos equipamentos — bola, taco, luva, calçados, trajes —, construção e concepção do estádio além da visão aérea do esquema básico de uma partida — que tenta explicar para o grande público os movimentos e táticas. As posições, os equipamentos, preparação dos jogadores, formas de arremesso com respectivos efeitos aplicados às bolas não são esquecidos. Tudo lembra um balé picaresco garantido pelas evoluções estrambóticas do personagem. Nisto, Jack Kinney e a equipe de animadores que lidera são craques.







São cerca de quatro minutos dedicados aos aspectos mais didáticos do jogo. Corta-se, a seguir, para a partida de baseball propriamente dita. Os espectadores são introduzidos no tempo final da suada e disputada peleja clássica entre os Gray Sox e os Blue Sox. Estes lideram pela folgada margem de 3x0. O adversário fará de tudo para mostrar serviço e reação. O rebatedor Gray consegue acertar com força, para o alto e longe, bola aparentemente indefensável. Logo acelera rumo às bases. Enquanto isso, o aparvalhado arremessador Blue tenta agarrar a pelota fragmentada em fiapos pelo violento impacto da tacada. Tudo é ordenado com muita cadência e dinamismo, inclusive a narração originalmente por conta de Fred Shields. Pateta não tem muito a dizer. Neste filme, deu folga ao dublador oficial — o icônico e hilariante Pinto Colvig. Em seu lugar foi escalado George Johnson. O aporte sonoro — incluindo o acompanhamento musical e as onomatopeias para impactos, freadas, fricções, corridas e saltos — se revelam decisivos à graça do produto. Para uma animação que valoriza acima de tudo o movimento e os equívocos, a fluência se apresenta como fator permanente e garante a atenção do começo ao fim. Tudo se revela muito divertido, apesar de haver poucas novidades nos aspectos formais.





História: Dick Kinney, Sylvia Moberly-Holland. Música: Paul J. Smith. Assistente de direção: Lou Debney. Efeitos de animação: Edwin Aardal, Andy Engman. Animadores: Les Clark, Marc Davis, Hugh Fraser, Ward Kimball, Milt Neil, John Sibley, Bill Tytla. Animador de Goofy: Ollie Johnston. Desenhos de fundo: Maurice Greenberg. Layout: Al Zinnen. Fotografia em Technicolor. Processo de mixagem de som: RCA Sound System. Tempo de exibição: 8 minutos.


(José Eugenio Guimarães, 1995)